segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Apresentação

Confesso que ainda estou pensando quanto ao formato deste espaço, mas, para facilitar a navegação, pretendo focar os seguintes temas:
- Indústria musical
- Convergência digital
- Desmoronamento de antigos modelos de negócio
- Iconomia
- Midiocracia

Assim que começar a abastecer este blog com novas postagens, eu pretendo destacá-los em diferentes categorias, tais como:
- Produção autoral
- Considerações sobre obras de referência
- Indústria do entretenimento
- Multimídia radical
- Bibliografia disponível na Internet
- Propostas legislativas para disseminação musical

Também pretendo ampliar as seções do blog de acordo com novas abordagens, embora as postagens sejam passíveis de inter-relação temática.

Agradeço a sua visita! Seja bem-vindo a este blog!

PS: Posteriormente pretendo enumerar sites que me servem de referência e fonte para pesquisa em uma listagem de favoritos.

Disseminação musical e perspectivas de novos negócios pautadas pelas inovações tecnológicas

Defendi neste domingo (6) meu artigo sobre os múltiplos formatos para disseminação de música na edição 2009 do Intercom, congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, realizado em Curitiba/PR.

O texto resulta das aulas do Professor Doutor Eduardo Vicente que assisti durante o primeiro semestre deste ano na Escola de Comunicação e Artes da USP. Complementei a abordagem com material oriundo de pesquisa por conta própria.

Este trabalho é a primeira etapa para o desenvolvimento de meu projeto de pesquisa, cujo foco compreende os seguintes temas:
- Indústria musical
- Convergência digital
- Desmoronamento de antigos modelos de negócio

Por se tratar de uma jornada em andamento, ajustes serão realizados durante a realização do projeto. Utilizo este espaço também para reunir em um só lugar reflexões acerca de meus objetos de estudo, organizar bibliografia na Internet e promover interação com quem porventura queira empreender quaisquer discussões relacionadas aos temas em questão.

Gostaria de salientar a data de conclusão do texto em 9 de julho último. Como continuo minha jornada de aprimoramento acadêmico, tendo em vista a orientação em novas disciplinas voltadas à rádio e economia das novas mídias, confesso que já consigo perceber possíveis equívocos ou deficiências do texto, passados quase três meses de sua confecção.

Afirmo que, por se retratar uma realidade em contínua renovação, a compreensão do quadro requer freqüentes reflexões e adaptações aos novos vetores propiciados pela tecnologia.

Naturalmente, a atualização do conteúdo autoral deste blog acontecerá de forma vagarosa. No momento, tenho a tarefa de me dedicar à leitura de, em curto espaço de tempo, milhar de páginas de bibliografia recomendada. No entanto, farei novas postagens à medida que considerar válida a exposição de minhas reflexões voltadas a meus objetos de estudo.

O título do artigo é "A disseminação da produção musical via múltiplos formatos sob a égide do vigente paradigma tecnológico". Sua versão integral está disponível neste link.

Neste trabalho discuto o atual panorama da disseminação da produção musical, mediante perspectivas de novos negócios pautadas por mudanças no aparato tecnológico.

O texto é dividido em introdução e mais oito partes. São elas:
1) A Reestruturação do mercado sob a lógica do Toyotismo
2) Indústria incólume à crise global devido à adaptação à nova realidade tecnológica
3) Importância equivalente entre mercados massivo e de nicho
4) Incipiência da consolidação do comércio de música online no Brasil
5) Estratégias criativas de atuação na reestruturação do showbizz musical
6) Revalorização do vinil via preços inflados no mercado brasileiro
7) A mercadologia da música "líquida" enquanto serviço
8) Emergência de legislação universal que atenda aos interesses dos diversos atores

Destaco abaixo os principais pontos de cada uma das partes do artigo:

Na introdução, defino a acepção de elementos-chave para a articulação dos temas, tais como:
- Música
- Dinheiro
- Comunidade
- Legislação
- Digitalização

Ressalto a crescente desmaterialização da música no meio digital e de nova concepção do consumo musical. Aqui a música se torna cada vez mais "líquida", menos considerada como bem físico, em função da redução dos custos de produção e tecnologias digitais.

O foco é no quadro nacional, mas norteado pelos ditames do panorama internacional.

A parte 1 aborda a reestruturação do mercado, onde a lógica do Toyotismo prevalece.

Esta é a lógica do sistema japonês, marcado pela hegemonia das finanças na acumulação do capital.

São dois os fatores-chave do Toyotismo:
- Qualidade associada à Flexibilidade
- Difusionismo culturalista
(Organização Mercadológica e Midiática da Contemporaneidade)

Tendo isso em vista, a Internet aparece como ponta-de-lança da Revolução Informacional que pauta o novo paradigma no mundo em que vivemos.

Fecho a parte 1 com o seguinte questionamento:
A música ainda é um bem de consumo, isto é, um produto? Ou agora se torna um serviço?

Meu artigo aposta nas duas perspectivas, pois uma coisa não exclui a outra.

Na parte 2, contextualizo que a indústria fonográfica mundial se manteve alheia à crise mundial de crédito, disseminada desde os Estados Unidos em 2008.

A indústria fonográfica não foi afetada porque já passava por outra crise, capitaneada pela mudança no aparato tecnológico.

Após o boom com o formato CD (de meados dos 80 a meados dos 90), a indústria do disco encolheu dramaticamente desde 1999.

Considero que muito de nossa concepção acerca da atual crise venha da ilusão de pujança proporcionada pelo ápice mercadológico da indústria fonográfica com o advento do CD.

1999 é o ano da popularização do Napster e a indústria do disco não aproveitou a abertura para novos negócios neste primeiro momento de sucesso das redes sociais no novo panorama enunciado pela Internet. Consolidadas a partir de meados dos anos 90, as mudanças tecnológicas impulsionaram a crise de demanda reprimida que marca o atual panorama.

Na parte 3, falo da atual equivalência entre mercados massivo e de nicho.

E destaco os seguintes fatores:
- Preços inflacionados dos suportes
- Perda de importância dos modelos hegemônicos de disseminação musical
- Derrocada mercadológica dos blockbusters
- Crise de demanda insatisfeita que premia soluções criativas

Também chamo atenção aos conceitos de Cultura Livre (Lawrence Lessig) e Cauda Longa (Chris Anderson).

Dentre outras questões, Cultura Livre preza pela democracia do ciberespaço mediante diferentes licenças e Cauda Longa ressalta a importância dos mercados de nicho no atual panorama, tendo em vista os cases bem-sucedidos do Google, Amazon e Apple (iTunes).

Vale ressaltar que o iTunes é o único modelo realmente bem-sucedido de comercialização de música nos EUA. Recentemente, seu sistema aboliu seus mecanismos de proteção anti-cópia.

Na parte 4, ressalto a incipiência do mercado de música online no Brasil. Destaco sua pouca expressividade, apesar de inúmeras iniciativas contínuas de se lucrar com música na Internet.

Essa tentativa de capitalização acaba levando a tentativas de um, a meu ver, equivocado enrijecimento regulatório da disseminação musical na Internet indistintamente.

Na parte 5, destaco soluções criativas para se obter o sucesso empresarial no atual panorama mercadológico.

Seus fatores-chave são:
- Articulação inteligente
- Flexibilidade

Ambos prezam por contínua adaptação às demandas de mercado. Bom exemplo disso é a associação das indústrias do disco e games.

Na parte 6, abordo a revalorização do disco de vinil no mercado brasileiro, enquanto alternativa para comercialização de música no atual cenário. Porém, destaco que esta revalorização se dá por meio de preços inflacionados, que só atendem à demanda de audiófilos inveterados - uma clientela diferenciada de consumidores de fonogramas afeitos ao fetiche quanto ao suporte.

Também aproveito para ressaltar as derrocadas do vinil e CD como formatos hegemônicos em diferentes eras, a fim de contextualizar o atual quadro de coexistência harmônica de múltiplos formatos mercadológicos sem a prevalência indiscutível de nenhum deles.

Na parte 7, falo da mercadologia da Música enquanto serviço, da música tratada como commodity. E menciono novos modelos para reafirmar a tese do panorama horizontal e descentralizado da produção musical. Afinal, a iniciativa não afeta as boas vendagens de fonogramas obtidas pela associação das indústrias de games e do disco, por exemplo. A meu ver, isso contraria a premissa de que a cultura de compartilhamento de arquivos prejudica o comércio de fonogramas.

Na parte 8, destaco a necessidade de ajustes legislatórios que atendam a diferentes interesses em escala global. E também ressalto a truculência do projeto da Lei Azeredo (considerado o AI-5 Digital ou o vulgar AI-Não-Pode) e a perigosa polarização dos antagonismos nessa discussão.

Tento dissociar a prática de downloads "gratuitos", sem finalidade comercial, da pirataria física propriamente dita - muito mais danosa, a meu ver. Observo a prática como um incentivo ao consumo musical, um apêndice dos downloads realmente gratuitos sob a licença Creative Commons, utilizada por muitos artistas consagrados para fins promocionais. Considero que a prática inclusive estimula a revalorização das apresentações ao vivo, o principal motor de lucratividade para os artistas.

Ao final do artigo, contextualizo que minhas críticas se baseiam na hipótese de a "Sociedade de Consumo" se transformar em "Sociedade de Controle" via ditames da "Sociedade da Informação". O desenvolvimento de minha pesquisa busca orientação nas perspectivas acadêmicas quanto à "Sociedade do Conhecimento".

Levo em consideração o pós-capitalismo que marca nosso momento histórico e o exteriorismo que norteia a atuação positiva de blocos políticos mais abastados. Estes hoje propiciam novas perspectivas de desenvolvimento para além de suas fronteiras territoriais, tendo em vista o mercado mundializado mediante sustentabilidade.

Saliento, que em momento algum, tento estabelecer "verdades absolutas", afinal este artigo é apenas um estudo relacionando indústria musical e novos aparatos tecnológicos, basicamente. Mas a discussão vai muito além disso. E é por esses caminhos que começo a empreender minha jornada de aprimoramento acadêmico...

Abaixo seguem as principais referências bibliográficas para a produção do artigo:
- MIDANI, André, "Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download", Ed. Nova Fronteira, 2008
- SODRÉ, Muniz, "Antropológica do Espelho, Uma Teoria da Comunicação Linear e em Rede", Editora Vozes, 2002
- VICENTE, Eduardo, "Música e Disco no Brasil: A trajetória da indústria nas décadas de 80 e 90", São Paulo, 2002
- ORMAN, Suze, "2009 Action Plan - Keeping your Money Safe & Sound", Spiegel & Grau, Nova York, 2009
- "IFPI, Digital Music Report 2009 - New Business Models for a Changing Environment", London, IFPI, 2009
- GUEIROS JUNIOR, Nehemias, "O Direito Autoral no Show Business – Tudo o que Você Precisava Saber – Volume 1 – A Música", Rio de Janeiro, Ed. Gryphus, 1999
- ANDERSON, Chris, "A Cauda Longa - Do Mercado de Massa para o Mercado de Nicho", EUA, Ed. Campus, 2006
- IDART, Departamento de Informação e Documentação Artísticas, "Disco em São Paulo", Damiano COZZELLA (Org.), São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura/ Centro de Pesquisa de Arte Brasileira, 1980
- PETERSON E BERGER, "Cycles in Symbol Production, The Case of Popular Music", American Sociological Review, Nova York, 1975.
- HERSCHMANN, Micael, "Revalorização da música ao vivo em um contexto de crise da indústria fonográfica", Intercom 2008, 2008